Os fenômenos por detrás da abstenção eleitoral
O primeiro turno das eleições municipais no RS foi marcado por altos índices de abstenção e de votos brancos e nulos. Porto Alegre se destacou como a capital com maior índice de eleitores que não compareceram aos locais de votação. Analisando os números, podemos entender a força deste movimento, Sebastião Mello (MDB) fez 345.420 votos e a soma de abstenção, brancos e nulos foi de 401.935. Significa dizer que o “não voto” foi maior do que a votação de Mello.
O mesmo fenômeno ocorreu em muitas cidades que foram atingidas pelas enchentes de maio de 2024. No caso de Canoas, foi muito sintomático. O primeiro lugar ficou com o candidato Airton (PL), que fez 51.472 votos. O segundo lugar, com Jairo Jorge (PSD), que obteve 43.442 votos. A soma do primeiro e do segundo lugar ficou em 94.014 e o número de “não votos” (abstenção, brancos e nulos) foi maior que o total de votos recebido pelos dois candidatos que estão no segundo turno, totalizando 113.599 pessoas que não destinaram o voto a nenhum dos candidatos. Em Pelotas, Fernando Marroni (PT) pontuou com 68.443 votos e os pelotenses que não destinaram voto a nenhum candidato somam 75.786 pessoas.
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Este movimento do eleitor pode ser entendido por quatro lógicas:
a) Desinteresse pela política: A cultura política da negação tem se ampliado. O eleitor, cada vez mais decepcionado, tem quase que certeza de que os políticos só atuam em causa própria e sempre encontram um motivo para deixar de comparecer às urnas;
b) O APP da justiça eleitoral, que facilita a vida do eleitor descrente: Justificar o voto se tornou algo fácil, basta ter o e-titulo e estar em outra cidade no dia da votação;
c) Candidaturas que não empolgam o eleitor: em muitas cidades houve muita “figurinha repetida”, cenários compostos por ex-prefeitos como candidato de situação e de oposição ou com candidatos que não apresentam as características necessárias para o momento. Toda campanha tem um grande tema e nessa eleição prevaleceu a agenda da zeladoria. O desejo por um Prefeito que pudesse cuidar da cidade, dos bairros e da saúde. No caso de Porto Alegre, muitos eleitores pensaram e repensaram o voto em Mello, mas na falta de uma opção mais qualificada, ficaram com a continuidade;
d) A mudança das seções eleitorais. Nas cidades atingidas pela tragédia, muitos colégios eleitorais mudaram de lugar e o eleitor não teve a informação ou se sentiu inseguro ou mesmo incomodado para fazer o novo deslocamento. Esse é um tema que a Justiça Eleitoral terá de cuidar neste segundo turno, ampliando a comunicação para que ele não seja mais um motivo para o eleitor não comparecer às urnas.