Quase 10 mil pessoas com mais de 60 anos estão fazendo o Enem
Em 2024, 9.950 idosos estão participando do exame, o maior número desde 2020, quando 11.768 pessoas com mais de 60 anos fizeram a prova
“Estudar não tem idade, adquirir conhecimento não tem idade. A pessoa aprende até o último dia de sua vida”, comentou Maria Elisabete, de 79 anos, que está participando da edição de 2024 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para ela, a busca pelo aprendizado é uma forma de renovar o mundo de conhecimento e manter-se ativa na vida.
“Dizem que aposentados ficam em casa, sem fazer nada, olhando para as paredes. Mas eu gosto muito de ler, estudar e aprender. Quero continuar renovando meu mundo de conhecimento, e por isso estou fazendo o Enem este ano”, afirma a senhora, que sonha em cursar Letras e, um dia, escrever um livro. Para isso, ela confia na força da sua dedicação e acredita que a prova será o primeiro passo para realizar essa meta.
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No último domingo, 3 de novembro, o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) aplicaram as provas de redação, linguagens e ciências humanas. Já no próximo domingo, 10 de novembro, os candidatos enfrentarão as provas de ciências da natureza e matemática.
O aumento da participação de idosos no Enem
O caso de Maria Elisabete não é único. Cada vez mais idosos têm se matriculado no Enem, buscando, como ela, novas formas de aprendizado e oportunidades para concretizar antigos sonhos. Este ano, o Exame Nacional do Ensino Médio tem registrado um número recorde de participantes com mais de 60 anos. Apesar de representar uma parcela pequena do total de 4,3 milhões de candidatos, o aumento da presença dessa faixa etária é expressivo.
Em 2024, 9.950 idosos estão participando do exame, o maior número desde 2020, quando 11.768 pessoas com mais de 60 anos fizeram a prova. Esses números refletem uma mudança significativa no perfil dos candidatos e indicam um crescente interesse de pessoas mais velhas pela educação. Desses quase 10 mil candidatos, 558 estão cursando o ensino médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), buscando se qualificar ainda mais para o mercado de trabalho ou simplesmente realizar um sonho pessoal.
Maria Elisabete é uma das participantes buscando novos caminhos, mostrando que a vontade de aprender e se reinventar é algo que transcende a idade. “Eu não quero ficar parada. A vida está aí para ser vivida e, por isso, vou continuar estudando e me atualizando”, diz com entusiasmo.
Enem como porta de entrada para o futuro
O Enem tem sido um divisor de águas para milhares de brasileiros, especialmente para aqueles que, como Elisabete, buscam ingressar no ensino superior em fases mais maduras da vida. Nos últimos anos, o exame se consolidou como a principal forma de acesso às universidades no Brasil, seja por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para Todos (Prouni), ou mesmo de financiamento estudantil, com o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Os dados mais recentes do Censo da Educação Superior (2023) confirmam essa tendência de crescimento. No total, 60.735 matrículas foram realizadas por estudantes com 60 anos ou mais, sendo que 30.692 desses ingressaram no ensino superior em 2023. Esses números refletem uma mudança na percepção sobre o envelhecimento no Brasil, uma vez que a educação é vista, cada vez mais, como uma ferramenta de inclusão e oportunidade, independentemente da idade.
O aumento da participação dos idosos no Enem também reflete uma transformação social mais ampla, que envolve o aumento da expectativa e qualidade de vida da população brasileira. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil registrou um aumento significativo na população com 60 anos ou mais, que, em 2022, alcançou 32,1 milhões de pessoas, comparado a 20,5 milhões em 2010.
Além de abrir portas para universidades brasileiras, o Enem também se tornou uma chave para o acesso a instituições de ensino superior no exterior, em particular em Portugal. O Inep possui acordos com universidades portuguesas, permitindo que os resultados do Enem sejam utilizados nos processos seletivos dessas instituições, facilitando a mobilidade acadêmica para os estudantes brasileiros, independentemente da idade.
Para Maria Elisabete, a participação no Enem não é apenas sobre conquistar uma vaga na universidade. “Quero aprender mais, viver novas experiências e, quem sabe, poder compartilhar meu conhecimento com outras pessoas, seja por meio de um livro ou de um simples bate-papo”, conclui.