Seis pessoas recebem órgãos transplantados com HIV após falha de testes de laboratório no Rio de Janeiro
Walter Vieira, sócio do laboratório PCS Lab Saleme, foi preso na manhã desta segunda-feira (14)
Órgãos com o vírus HIV foram transplantados em seis pacientes do Rio de Janeiro. O Ministério da Justiça informou que a Polícia Federal vai investigar o caso. Os órgãos infectados vieram de dois doadores.
As investigações apontam uma falha do laboratório PCS Lab Saleme, que emitiu os laudos de que órgãos estavam aptos para serem doados. O Ministério da Saúde, Ministério Público do RJ (MP-RJ), Polícia Civil e Conselho Regional de Medicina (Cremerj) também acompanham o caso.
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O laboratório está sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde para o atendimento de transplantes no estado.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que o governo prestará toda assistência aos pacientes infectados e está comprometido em garantir a segurança, a efetividade e a qualidade do Sistema Nacional de Transplantes no Brasil.
Além de pedir a interdição cautelar do laboratório, a pasta determinou que a testagem de todos os doadores de órgãos no Rio de Janeiro volte a ser feita exclusivamente pelo Hemorio, utilizando o teste NAT, que é produzido pela Fiocruz.
O ministério ordenou ainda a retestagem do material de todos os doadores de órgãos feitos pelo PCS Lab, para identificar possíveis novos casos falsos positivos.
Laboratório PCS Lab Saleme
O laboratório assinou três contratos com o Governo do Rio de Janeiro, que somados, chegam a R$ 17,5 milhões. Dois deles foram realizados de forma emergencial, com a dispensa de licitação. O terceiro contrato, com valor de R$ 11 milhões, passou por pregão eletrônico em outubro de 2023 e se refere à prestação do serviço de exames para transplantes.
Segundo o jornal O Globo, um concorrente apontou que o laboratório não conseguiu comprovar que tinha experiência prévia para executar metade dos exames previstos no contrato.
O laboratório teve o serviço suspenso logo após o caso vir à tona e foi interditado cautelarmente, de acordo com a secretaria de saúde.
O PCS Lab tem como um dos sócios Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira. Ele é primo do ex-secretário de Saúde do Rio Dr. Luizinho, deputado federal em segundo mandato e líder do PP na Câmara dos Deputados. Outro sócio do laboratório é Walter Vieira, casado com a tia de Luizinho.
Prisão
Foi preso na manhã desta segunda-feira (14), Walter Vieira, casado com a tia do deputado federal e ex-secretário da Saúde do Rio de Janeiro Doutor Luizinho (PP). Vieira também é pai de Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, também sócio, que assinou contratos com o governo do estado do Rio de Janeiro.
É a assinatura de Walter, enquanto responsável técnico, que consta no primeiro caso de doador de órgãos com HIV. Os testes realizados pelo PCS Lab Saleme não indicaram a presença do vírus. Vieira é ginecologista, portanto sua atuação em análises clínicas pode ser considerada irregular devido a uma espécie de “desvio de função”.
Matheus Sales Teixeira Vieira tem mais uma empresa que manteve contratos com a rede de saúde do estado. Investigação da Polícia Federal, Ministério Público descobriu que houve irregularidades na contratação do laboratório, que ocorreram quando o parlamentar ainda era secretário.
A ação da polícia cumpre quatro mandados de prisão preventiva e 11 de busca e apreensão na manhã de hoje. Ao todo, 40 agentes participam da ação. Ivanildo Fernandes dos Santos, responsável técnico do laboratório, também foi preso na operação. Além disso, o sócio Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, filho de Walter, foi conduzido pela polícia para prestar depoimento.